7 de fevereiro de 2010

Como eu gostaria de ser

Que atire a primeira pedra aquele que nunca almejou ser diferente em alguma coisa.
Eu, pra falar a verdade, nunca estou contente comigo mesmo, sabe. Confesso que,  às vezes, me imagino na pele de algum amigo meu.
Há certas qualidades que, de tão nítidas, parecem evidenciar o caráter de uma pessoa. Na maioria das vezes, dois minutos de prosa já é o bastante para traçar o perfil deste indivíduo.
Comigo sempre foi diferente. As pessoas vivem dizendo que sou uma incógnita, e o pior de tudo é que elas estão certas. Com isso, vivo num dilema eterno, afinal, se eu mesmo ainda não me descobri, como posso exigir opiniões sobre  mim?
Eu queria ser mais claro, objetivo e reto, mas não sou assim. Nas discussões, sempre saio com o rabo entre as pernas, derrotado, humilhado e sentindo pena de mim mesmo. Covardia.
Sou um fraco, sim, aquele que vos fala não queria estar digitando isso,  mas...
Você pode estar se perguntando: Você diz que não sabe como é, mas está aí, falando tudo. É, mas neste  exato momento, estou me perguntando se o que eu digitei acima está coerente com a realidade. É complicado, eu sei.
Eu queria ter todas as palavras exatas para retrucar, quando alguém vir me importunar. Queria ser mais irônico, sarcástico, dissimulado, hipócrita e calculista. Espanto? Com certeza você já agiu assim.
Eu queria aprender a pagar com a mesma moeda, ser vingativo, mas, ao invés disso, devido aos ensinamentos que tive, vivo rindo para quem quer ver a minha desgraça. Isso não seria um comportamento hipócrita, Paulo? Seria? Não sei.
Eu queria ser irredutível, fazer impor a minha vontade, não dá o braço a torcer, ter a última palavra, defender meus ideais sem dar ouvidos aos contras, mas sempre vivo à procura de apoio, à procura de alguém que me diga '' excelente'', ''ótima ideia'', '' vai em frente''... Minha dependência chega a ser ridícula. Fazer o quê? Eu sou assim.
Eu queria ser mais autoconfiante, ser mais egoísta, ser mais racional, mas sempre dou ouvido ao emocional.
Eu queria ser mais coerente, eu queria ter, em meu vocabulário, um vasto conhecimento do português, para que eu pudesse empregar, neste texto, palavras lindas e difíceis, que te obrigaria a usar o buscador do Google.
Eu queria estar postando este texto sem me preocupar com os erros ortográticos e com  a sua opinião acerca dele.
Eu queria ser teu amigo fiel, aquele  a quem você contaria todas as suas aventuras, mentiras, êxitos, mas mal consigo a sua atenção.
Eu queria ser mais risonho, ser mais altruísta, temer o que as pessoas temem, gostar do que todo mundo gosta, odiar o que todo mundo odeia, mas parece que sempre estou do lado oposto.
Eu queria ter a coragem de citar nomes de pessoas aqui. Dizer o quão bom é tê-las em minha vida, falar da sua importância, elogiar, mas...
Eu queria ter a coragem para xingar pessoas aqui, dizê-las como eu as detesto, como elas contaminam o ambiente em que se encontram. Gritar um sonoro FODA-SE!, mas  estou falando para mim mesmo que isso não seria um comportamento adequado.
Eu queria agradar a gregos e troianos, mas nem Jesus agradou a todos.
Eu queria ser eu mesmo, mas nem sei se sou o que acho que sou.

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